quarta-feira, 5 de maio de 2010

Anexos

1 – Alguns números sobre a Inquisição portuguesa
AZEVEDO, Carlos Moreira (dir.), Dicionário da História Religiosa de Portugal, Círculo de Leitores (entrada “Inquisição”):
“A actividade repressiva da Inquisição portuguesa é revelada pelos dados globais de processos instaurados entre 1536 e 1767: 44 817, pelo menos, pois não dispomos de informações completas sobre o tribunal de Goa para o período de 1624 a 1648. O número de relaxados foi pelo menos de 2064 (não dispomos de elementos sobre o tribunal de Goa, neste ponto, para a quase totalidade do século XVII), ou seja, 5% do total”.
ALMEIDA, Fortunato de (direcção de Damião Peres), História da Igreja em Portugal, Livraria Civilização Editora, Porto e Lisboa, volume VII, pág. 425:
“Segundo o alvará do 1.º de Setembro de 1774, consta das listas dos autos-da-fé que, desde 1540 até 1732, foram condenados 23 068 réus, dos quais 1 454 foram relaxados ao braço secular e pereceram na fogueira”.
Wikipédia inglesa (http://en.wikipedia.org/wiki/Portuguese_Inquisition):
“According to Henry Charles Lea, between 1540 and 1794, tribunals in Lisbon, Porto, Coimbra and Évora resulted in the burning of 1,175 persons, the burning of another 633 in effigy, and the imposition of penance on 29,590. However, documentation of fifteen out of 689 autos-da-fé has disappeared, so these numbers may slightly understate the activity”.
A Enciclopédia Verbo, no final do artigo sobre a Inquisição portuguesa, escreve:
“Falta, ainda, um trabalho baseado nos 40 000 processos inquisitoriais da T. T.”.
Observações
1. A disparidade destes números parece ter a ver com o período de tempo e até com os tribunais considerados.
2. No número dos relaxados ao braço secular, parece que também é preciso, normalmente, descontar os queimados em efígie, pois estes não morreram (no Convento de S. Francisco, em Vila do Conde, está sepultado um homem que na juventude foi queimado em efígie).
3. As mortes imputáveis à Inquisição portuguesa são assim cerca de 500 por século.
4. Os seus principais tribunais localizaram-se em Évora, Lisboa, Coimbra e Goa (houve mais três – Tomar, Lamego e Porto – de existência efémera).
5. A Inquisição organizava processos, por isso temos sobre ela uma informação fiável.
6. Ao tempo da Inquisição, houve muitos réus dos tribunais civis, executados principalmente na forca: talvez tantos ou mais que os mortos da Inquisição. São ainda hoje identificáveis os lugares onde se situavam as forcas da Póvoa de Varzim e de Vila do Conde.
7. O Marquês de Pombal terá também feito executar, em 30 anos, tantas vítimas como a Inquisição portuguesa em três séculos, e com mais crueldade.
8. A morte legal, por decisão de tribunal, foi de todas as civilizações e, ao menos noutros tempos, teria a ver com a inexistência dum sistema prisional capaz.

2 – O P.e Bartolomeu de Gusmão e a Inquisição
Saramago, que é tão solene e pródigo a proclamar as suas verdades – a meu ver, os seus preconceitos - coloca no princípio do romance aquela citação de M. Yourcenar a defender o relativismo. Dá para entender pouco.
Ele diverte-se a desmontar a imagem que se formou sobre certas figuras históricas, mesmo quando essa imagem assenta em documentos.
Entendemos que esta metamorfose é injustificável, inadmissível, ao menos em certos casos. De um padre digno o P.e Bartolomeu é transformado num herege. E com isto o autor quis obter uma figura-chave, um porta-voz do seu pensamento.
Se fizermos refluir a imagem deste sacerdote à que dele nos dão os documentos, ele não tem mais lugar no romance e, desaparecendo, a narrativa cai por terra.
Dever-se-ia distinguir entre P.e Bartolomeu de Gusmão e P.e Bartolomeu de Saramago.
Que nos dizem as fontes?

Ilustração 12 Leitura; "Quinta-feira, 3 de Outubro, fez o P. Br.meu do Quental, digo, Bertolameu L.ço outro exame na Ponte da Casa da Índia (no Castelo de S. Jorge) com o instrumento de voar, que, tendo já subido bastante altura, caiu no chão, sem efeito".
Fontes
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
No artigo respectivo nunca ocorre a palavra Inquisição.
Enciclopédia Verbo
No artigo respectivo nunca ocorre a palavra Inquisição; é ilustrado com dois documentos manuscritos, contemporâneos das experiências.
FARIA, Vicomte de, Bartolomeu Lourenço de Gusmão, Lausana, 1917 (opúsculo em francês).
É o primeiro que liga o nome do Bartolomeu de Gusmão à Inquisição, mas só no fim, para justificar a fuga para Toledo; mas como diz também que o P.e Bartolomeu de Gusmão desceu do Castelo de S. Jorge para o Terreiro do Paço na sua máquina de voar, o que parece fábula, não lhe devemos dar muito crédito.
A Wikipédia diz claramente que o desenho da Passarola foi uma mistificação consciente para afastar os curiosos.
As experiências do P.e Bartolomeu foram feitas perante a Corte, sem receios da Inquisição: ele tinha e continuou a ter protecção real. Quando fugiu, foi por ter cometido uma gravíssima deslealdade contra o Rei.
Devemos defender o bom nome do P.e Bartolomeu de Gusmão contra as afirmações preconceituosas de Saramago.
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José Saramago morreu
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Hoje, 18 de Julho de 2010, José Saramago morreu. Que tudo aquilo que vamos ter que ouvir nos ajude a descobrir a verdade, a distinguir aqueles que a procuram daqueles que populistamente se aproveitam do momento que passa.
J.F.
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Virar a página
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É fácil de admitir que muitos conheçam melhor a obra de Sramago do que eu. Mas pelo que conheço dela, ele não merece a consgaração de que é alvo. Por isso, passo à página seguinte e vou em frente.
19/6/2010.
J.F.
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Alguém ainda pensa
Para os madeirenses, Saramago não é um modelo ético, como todos deviam saber.
29/6/2010.

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