quarta-feira, 5 de maio de 2010

2.3 – O P.e Bartolomeu de Gusmão

O P.e Bartolomeu de Gusmão é também um tema maior do Memorial do Convento; mas devia-se distinguir entre o P.e Bartolomeu de Gusmão e o P.e Bartolomeu de Saramago, tão diferentes e distantes são as duas realidades.

As breves biografias disponíveis sobre ele nem sempre são muito concordes. Ainda assim, parece que podemos assentar nalguns pontos, como:

  • Intelectualmente, era um sobredotado;
  • Foi um sacerdote exemplar[1];
  • A Passarola só existiu num desenho, foi uma mistificação sua e nada tem a ver com as experiências com que intentou criar um objecto voador de transporte (veja-se abaixo);
  • Essas experiências foram feitas perante a Corte e não às escondidas da Inquisição;
  • Verosimilmente, nunca foi perseguido pela Inquisição.

Dizer que ele descria de todo o Catolicismo, que recuara a judeu, a herege… parece apenas uma enormidade saramaguiana.

A geringonça descrita por Saramago só voa porque o autor do romance assim o afirma ("era uma vez..."). Na realidade, só um turbilhão de ventos ciclónicos poderia levantar aquilo, mas então ninguém tinha mais mão nela. A seguir ela estatelar-se-ia ou no Tejo, ou sobre a cidade, ou noutro lugar qualquer.




Ilustração 7 Pedido dirigido pelo P.e Bartolomeu de Gusmão a D. João V, num latim difícil, para obter um alvará para uma invenção sua: “uma máquina na qual se voará com mais velocidade pelo ar que por terra”. No opúsculo de Vicomte de Faria vem a sua tradução para francês.


A mistificação da Passarola

“As primeiras ilustrações da Passarola haviam sido na verdade elaboradas pelo filho primogénito do 3º Marquês de Fontes, D. Joaquim Francisco de Sá Almeida e Menezes, com a conivência de Bartolomeu. O futuro 8º Conde de Penaguião contava 14 anos em 1709 e era, então, aluno de matemática do padre, sendo a única pessoa à qual ele permitia livre acesso ao recinto em que o engenho voador era guardado. Como o rapaz vivesse assediado por curiosos, que constantemente lhe faziam indagações acerca da invenção, resolveu ele, para parar de ser importunado, elaborar o exótico desenho da Passarola, em que tudo era propositadamente falseado. E para preservar o verdadeiro princípio da invenção – o Princípio de Arquimedes –, atribuiu a ascensão da engenhoca ao magnetismo, então a resposta para quase todos os mistérios científicos. Esperava dessa maneira melhor proteger o segredo confiado à sua guarda e ainda ludibriar os bisbilhoteiros. Comunicou o plano a Bartolomeu, que o aprovou, e fingiu deixar o desenho escapar por descuido. A Passarola, inspirada ao que parece na fauna fabulosa de algumas lendas do Brasil, foi rapidamente copiada pelos primeiros que a apanharam, logo se espalhando pela Europa em várias versões, para grande riso dos dois embusteiros.




Ilustração 8 A Passarola

Toda essa trama seria descoberta anos depois por um autor italiano, Pier Jacopo Martello [1625 – 1727], e revelada por ele na edição póstuma do livro Versi e prose de 1729, em que fazia um longo e meticuloso histórico das tentativas do homem para voar, das mais antigas às mais recentes daquele tempo”. Wikipédia


Ilustração 9 Um dos órgãos da Basílica de Mafra.


[1] Temos de descontar a sua deslealdade final para com D. João V, instigada talvez pelo príncipe Francisco.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.